Por que ninguém fala em inflação médica?

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A leitura do recente artigo de autoria do presidente da Central Nacional Unimed, Alexandre Ruschi, sobre a visão das operadoras de planos de saúde a respeito do percentual de reajuste é recomendada pelo presidente da Unimed Goiânia. Segundo ele, as notícias destacam os percentuais de reajuste dos planos de saúde contra os de inflação nos últimos 18 anos, mas não consideram, porém, o acumulado da Variação de Custos Médico-Hospitalares (VCMH), a mais importante para o setor, que começou a ser medida em 2007.

Breno de Faria

Breno de Faria destaca a importância da informação para que cooperados e cooperadas compreendam a complexidade do mercado de saúde suplementar.

Leia abaixo:

Alexandre Ruschi

“O IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgou os resultados de uma pesquisa sobre o reajuste de planos de saúde individuais e, como era de se esperar, o percentual de aumento dos planos de saúde, comparado à inflação do País, tomou conta de veículos de grande circulação nacional. Por isso, faz-se necessário esclarecer alguns pontos do ‘outro lado do balcão’, ou seja, sobre o ponto de vista das operadoras.

A inflação, medida pelo IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, é baseada em itens do nosso dia a dia: alimentação e bebida, habitação, artigos de residência, vestuário, transportes, despesas pessoais, educação e comunicação, além dos serviços de saúde e cuidados pessoais, que correspondem a apenas 12,07% deste índice.

Já a inflação médica ou VCMH (Variação de Custos Médico-Hospitalares), é um índice que utiliza outros componentes relacionados à saúde, que elevam muito o seu custo, tais como incorporações tecnológicas, envelhecimento da população, epidemias, rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar, excessiva judicialização, dentre outros componentes.

As notícias destacam os percentuais de reajuste dos planos de saúde contra os de inflação nos últimos 18 anos. Não consideram, porém, o acumulado do VCMH, o mais importante para o setor, que começou a ser medido em 2007. De lá até 2017, o acumulado foi de 326,32%. Enquanto o IPCA no mesmo período foi de 88,01%.

Os planos de saúde empresariais têm o reajuste com base no aumento das despesas médicas durante o ano, garantindo um equilíbrio entre a receita e as despesas. O mesmo, no entanto, não ocorre com os planos de pessoa física, que têm o reajuste fixado pela agência reguladora. Assim, as contas não fecham e a oferta dos planos fica comprometida. O resultado é que pouquíssimas operadoras comercializam planos de pessoa física. O Sistema Unimed é uma exceção. Nossas cooperativas atendem, em conjunto, 18 milhões de brasileiros, sendo que, destes, 4,3 milhões de beneficiários têm planos individuais ou familiares. Ou seja, praticamente metade dos planos de saúde pessoa física do País.

A nova regra de reajuste da ANS tende a aumentar ainda mais a disparidade entre o aumento dos planos de saúde para pessoa física e a inflação médica, uma vez que 80% do indicador será definido pela variação das despesas médicas desses planos, mas com dois fatores de redução: variação da receita por faixa etária e ganhos de eficiência do setor. Já os outros 20% serão compostos pelo IPCA. O que pode diminuir ainda mais a oferta de planos individuais. Assim, é de suma importância que a ANS defina o mais rápido possível os mecanismos de revisão técnica dessas carteiras.

Enquanto isso, a margem de lucro do setor permanece entre 3% e 4%. Repensar o modelo de saúde atual é imprescindível para evitar um colapso e depende de uma articulação de todas as esferas da sociedade, trazendo desde o poder público até a população para o mesmo debate. O que não podemos aceitar é que a iniciativa privada, responsável por mais da metade dos investimentos em saúde no País, seja sempre penalizada”.

Fonte: CNU e Unimed Goiânia.