CFM revoga resolução que regulamenta telemedicina no País

O Conselho Federal de Medicina (CFM) revogou, no dia 22 de fevereiro, a resolução que regulamenta a prática da telemedicina no País. A regra permitia a realização de consultas, exames e até cirurgias a distância. A medida ocorre após uma série de críticas de conselhos regionais, que consideraram o texto pouco claro e com pontos que poderiam, em última análise, trazer risco à qualidade do atendimento de pacientes e ao sigilo das informações médicas. Entidades apontaram ainda a falta de debate sobre a normatização.

Em comunicado, o CFM informou que a decisão foi tomada por causa do grande volume de manifestações da classe médica e entidades que a representam. Anunciada no início de fevereiro, a regra permitiria que pacientes em regiões mais afastadas do País tivessem a primeira consulta médica a distância, desde que acompanhados de um ou uma profissional de saúde, como auxiliar de enfermagem.

As exigências eram mais frouxas do que as apresentadas para habitantes de cidades mais próximas do centro. No caso dessas pessoas, as consultas a distância poderiam ser feitas apenas em retornos e sempre intercaladas com outras consultas presenciais.

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Diante das queixas de Conselhos Regionais de Medicina, o CFM abriu uma consulta para que sugestões fossem encaminhadas. A ideia inicial era manter o cronograma e não revogar a norma. Mas, diante do alto número de sugestões, a autarquia decidiu recuar. Não há prazo para se apresentar um novo texto.

A suspensão foi anunciada no mesmo dia em que a Associação Médica Brasileira, até então neutra diante da polêmica resolução, disse ser favorável à revogação. Entre os conselhos regionais que criticaram a medida, estavam os de São Paulo, Rio, Bahia e Rio Grande do Sul.

Até o momento, foram encaminhadas 1.444 propostas de mudanças na regra. A partir de agora, as contribuições serão organizadas, analisadas e debatidas para construir um novo texto. A revogação será oficializada em reunião extraordinária do CFM, marcada para terça-feira.

Reações

A notícia da suspensão da norma provocou reação imediata. A Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) disse lamentar a decisão. Para a entidade, diante da evolução do mundo digital, “soa estranho” qualquer tentativa de frear a evolução. A Abramge afirmou ainda que a saúde a distância proporciona melhoria da qualidade de vida de pacientes, com economia de tempo para pacientes e prestadores de serviços.

Em nota, a Federação Nacional da Saúde Suplementar (FenaSaúde) afirmou que a revogação é uma oportunidade para o debate ser aprofundado e a norma, aperfeiçoada. Para a instituição, que reúne operadoras de planos de saúde, a telemedicina é uma ferramenta importante, que já é usada, e a regulamentação é necessária.

Antonio Carlos Endrigo

Diretor de tecnologia da informação da Associação Paulista de Medicina (APM), Antonio Carlos Endrigo disse que o debate é necessário. “A última resolução sobre telemedicina data de 2002. Temos, então, 17 anos de defasagem, e todo mundo sabe que a tecnologia tem evolução absurda de um ano para o outro. As entidades médicas não podem ficar tão atrasadas em relação a isso”, disse.

Endrigo apontou a necessidade de ajustes em relação à versão original, mas se mostrou frustrado com o recuo do CFM.

Breno de Faria

“Trata-se de uma mudança importante nas relações médicas e é compreensível as reações de cautela despertadas. O assunto deve ser amplamente debatido e o relacionamento médico-paciente deve ser preservado sempre”, diz o presidente da Unimed Goiânia, Breno de Faria.

Fonte: Jornal Estado de São Paulo e Unimed Goiânia.