A preocupação com a queda dos fios é bem antiga. Registros históricos mostram que, há aproximadamente 3,5 mil anos, o homem trava uma luta contra a calvície, conhecida no meio científico como alopecia androgenética. No fim do século 16, já dizia o dramaturgo e poeta inglês William Shakespeare, em A comédia dos erros, que os calvos por natureza em tempo nenhum recuperam o cabelo. A afirmação continua verdadeira, embora em parte. Ainda não há um remédio capaz de fazer renascer a cabeleira perdida. Mas a ciência tem derrubado parcialmente a idéia de Shakespeare: desde a década de 80, a medicina oferece medicamentos que retardam a perda dos fios.
Assunto discutido durante workshop para imprensa na capital paulista, na semana passada, a calvície tem tratamento e acomete 30% dos homens na faixa dos 30 anos, e 50% aos 50 anos. Para se tirar proveito das intervenções, os médicos são enfáticos. ¿O paciente deve procurar tratamento assim que perceber os primeiros sinais. Quanto antes, melhores são os resultados¿, assegura o dermatologista Ademir Leite Júnior, presidente do Grupo de Apoio e Pesquisa em Calvície e palestrante do workshop.
Os médicos explicam que cada folículo capilar atravessa aproximadamente 14 ciclos durante a vida do indivíduo. Caso o tratamento seja iniciado tardiamente, serão poucas as possibilidades de controlar a calvície, já que a maior parte dos cabelos atravessou o ciclo de vida. ¿Só não se pode ficar na expectativa de recuperar imediatamente a mesma cabeleira que se tinha antes do problema. Costumo dizer que manter os fios que se tem na cabeça já é um efeito satisfatório¿, completa o médico, que ficou calvo na juventude.
Autor de livros sobre o tema, como Socorro, estou ficando careca! (MG Editores), Ademir já fez transplantes capilares. ¿Na época em que o problema foi descoberto, não existia o leque de opções disponíveis hoje¿, conta. Mesmo com o arsenal farmacológico para tratar a alopecia, as cirurgias de transplante capilar cresceram mais que 30% de 2004 a 2006, segundo pesquisas realizadas pela Sociedade Internacional de Restauração Capilar (ISHRS, em inglês).
Entre os motivos que explicam esse aumento, está a modernização das técnicas, que cada vez mais proporcionam uma aparência natural e possuem resultados permanentes sem ser detectados visualmente. ¿Mas esse tipo de procedimento só é indicado quando os remédios não surtem bom efeito¿, destaca Ademir.
¿Se bem conduzidos, os transplantes trazem resultados muito bons. Mas apenas numa consulta médica criteriosa pode-se analisar se a pessoa tem indicação ou não para a cirurgia¿, complementa o cirurgião pernambucano Fernando Basto.
Problema de transmissão genética (basta somente a presença de um gene, vindo de um dos pais, para o filho manifestar a doença), a calvície tem preocupado bastante também o sexo feminino. ¿Desde 2000, percebe-se um aumento da procura delas por tratamentos. Dos dez transplantes capilares realizados, um é feito em mulher. E cerca de 35% das pacientes recorrem ao tratamento com remédios¿, continua Fernando, baseado em experiências próprias.
Hoje existe uma porção de fármacos com poder terapêutico diante da calvície. ¿Eles têm particularidades e efeitos de baixo a intenso¿, diz o cirurgião. Os três remédios mais comuns e eficazes são o minoxidil, a finasterida e o alfaestradiol. Eles funcionam, mas apenas um dermatologista pode prescrever a alternativa mais adequada. E crendices, como a de que cortar os cabelos os faz ganhar força, devem ser deixadas de lado. Outro ponto essencial é a adesão, que é difícil de se conseguir porque os resultados não são observados de imediato. Ou seja, é preciso ter disciplina e paciência.
Como os primeiros efeitos surgem após três meses de uso de um desses três remédios, é fundamental ter disposição para encarar o tratamento e possuir confiança no produto e no médico. Primeiro produto a ser aprovado para o tratamento da calvície, o minoxidil é aplicado via tópica sobre o couro cabeludo. ¿Só funciona em 30% dos casos e traz efeitos colaterais como dermatite, inflamação na pele¿, informa Ademir.
Nas mulheres, de acordo com o dermatologista, o produto faz nascer pêlos no rosto caso ele escorra no rosto. ¿No sexo feminino, os fatores que mais influenciam são alguns medicamentos contraceptivos, distúrbios da tireóide, gravidez e menopausa¿, continua Ademir.
Entre os tratamentos aprovados, a finasterida (administrada por via oral) não é a primeira opção pensada para a ala feminina. ¿Evita-se a prescrição dela para mulheres em idade fértil porque o remédio pode causar anormalidades na genitália externa, caso o feto seja do sexo masculino¿, assegura Fernando. ¿Mas nas mulheres que atingiram a menopausa e que passaram pela laqueadura tubária, a finasterida pode ser usada.¿
Como todo medicamento, ele tem efeitos colaterais: pode provocar transtornos sexuais (disfunção erétil, diminuição da libido e diminuição do volume ejaculatório) em aproximadamente 2% dos pacientes. ¿Quem o usa deve se submeter semestralmente a exames que analisem a função hepática¿, acrescenta o cirurgião. Já o alfaestradiol, apresentado em loção capilar e lançado em 2002 no Brasil, é capaz de fazer com que os fios fracos e finos nasçam mais fortes e grossos. Nessas condições, estudos relatam melhora em cerca de 80% dos casos.
Filho de pai calvo, o estudante de medicina Lucas Caheté, 23 anos, toma cuidados para não enfrentar uma crise de perda capilar intensa. Ele já se submeteu a dois tratamentos para ¿deixar as entradas mais discretas¿, como ele mesmo menciona. Pela primeira vez, aos 20 anos, tomou remédio e usou loção para os fios ficarem mais fortes.
¿Usei os medicamentos por aproximadamente seis meses. Vi resultado, mas faz um ano que parei devido ao alto custo¿, conta Lucas. ¿Pretendo ir novamente ao médico, pois a queda dos fios voltou. Sei que o tratamento tem que ser contínuo e que preciso tratar o quanto antes para evitar um problema mais crítico no futuro.¿
A queda dos fios também pode ser motivada por distúrbios hormonais, sensibilidade das raízes capilares, situações de estresse, má alimentação, uso de determinados medicamentos e até depressão. As oscilações dos hormônios (fator principal da queda de cabelo temporária) representam mais de 95% de todos os casos entre mulheres.
A perda, no entanto, nada tem a ver com uso de condicionador, secador ou chapinha. É tudo mito. ¿O que ocorre é que, na lavagem e na alta temperatura, os fios que estão na fase de queda cairão com mais facilidade¿, finaliza Ademir.
Fonte: Jornal do Commercio - http://www.jc.com.br/