Pesquisadores dos Estados Unidos identificaram em humanos duas variantes do vírus H5N1, responsável pela transmissão da gripe aviária. A descoberta aponta que as pesquisas em busca de uma vacina contra a doença serão mais difíceis do que se imaginava. O trabalho foi apresentado durante palestra na Conferência Internacional sobre Doenças Infecciosas Emergentes, em Atlanta. Segundo o estudo, uma clade - que é uma subespécie do vírus - contagiou pessoas no Vietnã, Camboja e Tailândia em 2003 e 2004, e outra variação provocou a doença em seres humanos na Indonésia, também em 2004.
"Em 2003, tínhamos apenas uma população do H5N1 geneticamente capaz de causar uma pandemia humana. Agora, temos duas", explicou Rebecca Garten, do Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos EUA, responsável pelo estudo. "Conforme o vírus continua sua expansão geográfica, está passando por uma expansão da diversidade genética", continuou Garten. Por enquanto, só se contrai a doença quando se mantém contato com aves contaminadas. O maior temor dos especialistas é que o vírus sofra uma mutação que lhe permita transmitir entre humanos. Para seu estudo, a cientista e seus colegas analisaram mais de 300 amostras de vírus H5N1 recolhidas de aves e pessoas doentes em três anos. O Departamento de Saúde dos EUA já reconheceu a segunda clade e encomendou uma vacina específica.
Europa
Antes mesmo de saber da nova variação do H5N1, a Comissão Européia (CE) já se movimentava para estabelecer um "grupo de emergência" e garantir assistência a país atingidos pela gripe aviária. Pressionada por membros do bloco, a CE iniciou negociações para a adoção de medidas adicionais de ajuda aos produtores avícolas afetados pela queda no consumo de carne de frango. O organismo propôs co-financiar até metade das ajudas concedidas pelos países da União Européia, a fim de compensar os produtores pela crise de preços. "Está claro que esse tipo de crise não pode ser administrado com as medidas atuais", reconheceu a comissária européia de Agricultura, Mariann Fischer Boel. Até o momento, a CE havia privilegiado ajudas nacionais, contentando-se em aumentar as "restituições" às exportações. No último ano, o consumo de ave caiu mais de 10% em vários países da UE. Grécia e Itália experimentaram reduções de até 50%.
Enquanto a Europa tenta solucionar os estragos da gripe, o vírus continua a se espalhar pelo mundo. As autoridades da Malásia confirmaram a existência de um novo foco de gripe aviária em Penang, no norte do país. Em Israel, uma organização de granjeiros exigiu que o governo declare a gripe aviária um desastre natural. Na Dinamarca, nove casos do vírus H5 detectados no sábado em patos selvagens foram qualificados como pertencentes ao tipo H5N1. No último domingo, o Egito tinha registrado seu segundo caso de gripe aviária em seres humanos no domingo.
Brasil
Os brasileiros também tentam se proteger. O governo anunciou que monitora nove rotas de aves migratórias para prevenir a entrada do H5N1. O monitoramento é feito no Amapá, Bahia, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul. Os trabalhos são coordenados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), pelo Ibama e por universidades. "O monitoramento é uma forma de dar tranqüilidade à população", explicou o coordenador de Sanidade Avícola do Mapa, Marcelo Mota.
Fonte: Correio Braziliense
21/03/2006