Unimed Goiânia e UFG recebem a cantora Maria Rita no Música no Campus de 2017
Unimed Goiânia e UFG recebem a cantora Maria Rita no Música no Câmpus de 2017
O Centro de Cultura e Eventos Professor Ricardo Freua Bufáiçal da Universidade Federal de Goiás (UFG), recebeu, no dia 14 de novembro, mais uma edição do Projeto Música no Câmpus, com o show da cantora Maria Rita.
A cantora, que participou do projeto em 2015, voltou ao palco celebrando as grandes vozes femininas e os grandes nomes do samba com o show “Samba da Maria”, inspirando na tradicional roda de samba. Os músicos Davi Moraes (guitarra), Fred Camacho (banjo e cavaquinho), André Siqueira e Marcelinho Moreira (percussão) ficaram posicionados em um semicírculo com a cantora ao centro. A ideia foi criar uma atmosfera intimista e próxima da plateia.
O repertório de Maria Rita variou entre as vertentes do samba de Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Adriana Calcanhoto, Alcione e, como não podia faltar, Elis Regina. A cantora fez a plateia se levantar e dançar ao som de “Não deixe o samba morrer”. Ela tirou os sapatos e correu descalça pelo palco.
Em determinado momento, um coro bradou “Fora Temer”, e a cantora, respeitando essa opinião, esperou para continuar a cantar. “Isso é democracia. Cada um tem o direito de se expressar e brigar por aquilo que acredita”, disse Maria Rita antes de continuar com o show.
O projeto
Após um período de interrupção, o projeto Música no Câmpus foi retomado este ano com a parceria da Unimed Goiânia, que acredita na importância do incentivo à cultura e já realizou outras edições com os músicos Lenine e Zeca Baleiro.
Eduardo Meirinhos e Orlando do Amaral
Para o reitor da Universidade Federal de Goiás, Orlando do Amaral, a parceria está sendo de muito sucesso. “Nós só temos que agradecer à Unimed Goiânia por acreditar e incentivar esse projeto maravilhoso, que, independente da gestão da UFG, continuará sempre que tiver parceiros engajados como a Cooperativa. A população goiana merece esse incentivo à cultura”, disse o reitor.
O coordenador de Cultura da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEC), professor Eduardo Meirinhos, disse que todos só têm a ganhar com a parceria, e ela não pretende encerrar tão cedo. “Nós temos, pelo menos, mais quatro shows programados para o ano que vem. A parceria com a Unimed Goiânia está sendo muito importante. Nós trazemos grandes nomes da música brasileira para a população goiana a preços muito acessíveis”, explicou o professor.
Sérgio Baiocchi Carneiro
E o diretor de Mercado da Cooperativa, Sérgio Baiocchi Carneiro, fez questão de reforçar o compromisso da Cooperativa com a cultura. "A música popular brasileira faz parte da nossa cultura, e nós devemos fortalecer a produção artística", afirmou o diretor.
Maria Rita
Maria Rita
Após o show, a cantora recebeu a Assessoria de Comunicação da Unimed Goiânia para uma breve entrevista. Maria Rita falou sobre o show e justificou o sucesso do “Samba de Maria” por cantar com o coração, com a alma. “A emoção de subir no palco e cantar é sempre diferente. Eu fico pensando: ‘esse pessoal saiu de casa para me ouvir’. Cantar é algo tão natural pra mim, mas a emoção é grande em cada uma das minhas apresentações”, explicou a cantora.
Questionada se não se arrependia de não ter começado sua carreira mais nova, por já estar totalmente inserida no meio desde que nasceu, Maria Rita foi incisiva. “Nunca. Eu entrei na música, quando senti a pressão de dentro pra fora para fazer isso. Porque desde os oito anos me falavam para ser cantora, com quinze ficou mais difícil. Com dezenove, a pressão era tanta que eu sabia que se entrasse naquele momento, não seria eu. Eu esperei até os vinte e quatro anos, para que viesse de dentro, para que fosse uma necessidade e é até hoje. Eu preciso cantar!”.
Perguntada a respeito da onda de censura que o meio artístico em geral vem sofrendo, ela comentou que é muito perigoso esse ambiente de "cotoveladas que a arte vem sofrendo, porque estamos nivelando por baixo, principalmente por uma questão de mercado. Mas é uma posição canalha, porque é hipócrita e mentirosa. Estamos livres no papel, somos um Estado laico, uma nação livre, mas na prática do dia a dia não é isso. Sofremos como sociedade, não só como artistas”, falou a cantora.
Entrevista Completa
Abaixo você confere a entrevista na íntegra com a cantora Maria Rita.
Unimed Goiânia: O show “Samba de Maria” já fez dois anos em outubro, você canta com a mesma emoção do começo?
Maria Rita: Tenho quinze anos de carreira, não tem uma noite em que eu não me emocione. Óbvio que depende muito da plateia, têm situações que a troca é diferente. Cada situação é uma situação. Eu, às vezes, paro e olho, dá uma confusão na alma. Essas pessoas saem de casa para me ver cantar. Cantar é algo tão visceral, tão sério pra mim. É importante e necessário. E as pessoas saírem de casa para vir me ver é um movimento de muita generosidade. Eu canto para minha necessidade, para minha existência, mas isso chega e toca alguém.
UG: A que se deve o sucesso desse show?
MR: A única coisa que me vem na mente é essa relação com a plateia. A generosidade do público, porque eu sou uma pessoa com muitos defeitos, mas eu sei que tem uma coisa que eu faço bem: cantar. E eu canto com propriedade e verdade, e acho que é isso que traz as pessoas. É uma paixão e uma entrega. O samba também é algo que está na raiz de todos nós, quer queiram quer não, o samba é nossa identidade nacional.
UG: Além de cantar o samba, você tem a preocupação de “não deixar o samba morrer”?
MR: Tenho sim, porque o samba está muito judiado. Eu converso na gravadora e eles mostram os números. Eu acho um erro que a arte seja tratada com números, mas por trás da arte tem um mercado, então temos que ouvir. Pra quem vive de números, o samba hoje é descartável. Não movimenta tanto quanto outros gêneros musicais. Eu lamento, mas isso me dá estímulo para continuar. Me sinto muito mais relevante, muito mais cantora e muito mais real no samba.
UG: Falando sobre tempo de carreira, muitos acreditam que você entrou ‘tarde’ no mundo musical. Alguma vez você se arrependeu e quis ter entrado antes?
MR: Nenhum arrependimento. Eu teria sido engolida se tivesse chegado mais cedo, se eu tivesse cedido às pressões. Eu ouço que eu tenho que cantar desde os oito anos de idade. Aí isso se intensificou com quatorze, quinze. Aos dezenove virou um inferno, de fora pra dentro. E, quando eu estava com os meus vinte e quatro, virou um inferno de dentro pra fora. Foi essa a hora que eu decidi, que eu descobri o meu porquê. O tempo é diferente para cada um. Cada um tem o seu, de tudo. De amor, de desamor, de qualquer relação humana.
UG: Seu público é bem variado, como diz o ditado “vai de mamando a caducando”, como você vê isso?
MR: É uma maravilha. No meu primeiro disco, ficou muito essa coisa de “a filha da Elis herdou os fãs dela, os mais velhos”, aí um dia um diretor de marketing da gravadora que eu estava na época falou: ‘um artista que vende 850 mil cópias não fala com um público”. E eu noto isso, desde o primeiro show, logo no início o público foi se abrindo. Tinha os curiosos, os saudosos, e aí começaram a chegar várias pessoas. Aí na turnê “Redescobrir”, que fiz em homenagem à minha mãe, vieram os fãs dela, de quarenta, cinquenta, sessenta anos, que levam os netos, aí minha cabeça deu um nó com tanta gente diferente.
UG: Qual sua opinião sobre essa recente onda de censura à arte e o que você acha que, como artista, assim como os demais artistas em geral, pode fazer nesse momento?
MR: A situação da cultura hoje eu vejo como um reflexo da não situação da educação no Brasil. Nós podemos ficar aqui horas e horas debatendo o que é bom e o que não é, culturalmente falando. Mas no fundo é o que a gente gosta e o que não gosta. A relação que me interessa é o entendimento da pessoa do que é arte. Um país sem arte, sem cultura é um país sem memória. E eu me pergunto, se esse movimento que estamos passando agora, se não é resquício de algo mal resolvido de trinta anos atrás, que nós fomos plantando, e a minha geração só recebendo. Essas cotoveladas que a arte como um todo vem tomando aqui, ali, as proibições, são muito perigosas, porque a gente vai nivelando por baixo, especialmente por uma questão de mercado. Mas é uma posição canalha, porque é hipócrita e mentirosa. Porque no papel somos uma nação livre, um Estado laico, mas na prática do dia a dia isso não está acontecendo. Então é uma canalhice o que estamos vivendo como sociedade. A ditadura era uma situação declarada, sabíamos quem era o inimigo. Ou você era a favor ou era contra. Nós sabíamos o que estava acontecendo de verdade, hoje é uma grande hipocrisia, uma grande mentira. A gente pode falar, mas não pode, é livre, mas não é. O que podemos fazer é nos fortalecer e perder o medo. Eu tenho medo da agressividade gratuita, porque se apoiamos somos “jogados no porão”, se não apoiamos, também.