Banco de Imagens Reportagem publicada no site da UOL, "Pronto-socorro não substitui consulta com pediatra", sobre uma nota recente publicada pela Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), revela um hábito que existe também em Goiânia e está repercutindo no meio médico. Um levantamento está sendo feito pela entidade para comprovar a observação de que os serviços de emergência oferecidos pelos hospitais estão sendo usados para substituir o atendimento pediátrico em consultório.
De acordo com o presidente da SPSP, Mário Roberto Hirschheimer, atualmente existem 0,7 pediatra para cada mil crianças. "Com falta de profissionais e a demora em marcar consultas, o pronto-socorro tem sido a opção de muitos pais e está superlotado", afirma. A falta de profissionais nessa especialidade é uma realidade em todo o país. Para o diretor da Associação dos Hospitais do Estado de Goiás (AHEG) e um dos proprietários do Instituto Goiano de Pediatria (IGOPE), o pediatra Roque Gomide, a carência de profissionais está gerando problemas graves tanto no sistema público de saúde como no privado. "O crescimento populacional está ocorrendo em progressão geométrica, enquanto o crescimento da oferta de profissionais da Pediatria acontece em progressão aritmética. Esse grande descompasso está desviando a demanda para o clínico geral ou para o atendimento de emergência, o que não é bom de forma alguma", afirma ele.
Segundo ele, a desvalorização do pediatra com o custo muito baixo da consulta é um dos fatores para o desinteresse na especialidade. "O que tem acontecido é que muitos profissionais vão buscar as subespecialidades ou especializações em cirurgia pediátrica, neuropediatria, por exemplo, como forma de agregar valor aos seus ganhos. O pediatra que depende só da caneta e do estetoscópio tem dificuldades de sobrevivência e precisa ser mais bem remunerado", alerta Dr. Roque Gomide.
Segundo o Dr. Anselmo de Oliveira Franco, pediatra do SAU I, nos últimos quatro meses, a situação se agravou muito. "Quando a mãe não encontra vaga no consultório do seu pediatra e tem que esperar por uma consulta, ela entra no primeiro lugar que encontra um profissional. Realmente, uma criança não pode esperar. Isso está sobrecarregando os hospitais. Existe escassez de pediatras. Nas residências médicas, sobram vagas da especialidade. Ninguém quer pediatria. Se continuar assim, daqui uns dez ou quinze anos, não teremos mais pediatras", prevê ele. Ele conta que, por causa dessa grande demanda, os plantões no SAU I têm contado sempre com dois pediatras e um terceiro é convocado quando o movimento aumenta ainda mais. "Temos conseguido atender nossos pacientes apesar da impaciência revelada pelos pais em muitos casos. É natural, mas não podemos examinar uma criança rapidamente. Devemos estar atentos. O atual problema da falta de pediatras vai se tornar muito grave em pouco tempo se nada mudar", manifesta-se Dr. Anselmo. Importância da consulta pediátrica Apesar das dificuldades, o acompanhamento pediátrico deve ser prioridade para os pais. Depois do atendimento em um pronto-socorro, o ideal é levar a criança ao consultório para dar continuidade ao tratamento. Nem sempre que as crianças reclamam de dor ou sofrem algum mal-estar, como febre e diarreia, é necessário ir ao hospital ou consultório do pediatra. Os especialistas recomendam que os pais busquem investigar a origem do quadro, observem a evolução dos sintomas e tomem medidas simples, porém eficazes, para ajudar os filhos a melhorar. O pediatra cooperado Dr. Carlos Magno da Fonseca também tem uma visão muito objetiva das distorções que estão ocorrendo no atendimento pediátrico. Fachada Serviço de Atendimento Unimed "Os pais estão transformando o SAU em consultório. O SAU está congestionado. É compreensível, uma criança com febre não pode esperar dias para ser atendida. Consultório de pediatra tem que ter vaga no dia. Não existem pediatras em Goiânia, os consultórios estão superlotados", diz ele. Grande parte dos casos pediátricos atendidos no SAU I não é emergência. Mesmo assim, emergência pediátrica é diferente da emergência de um adulto e mesmo que não seja grave, uma criança com febre deve ser atendida logo para evitar complicações. Ele continua: "Apesar do SAU estar cheio, a mãe sabe que seu problema vai ser resolvido e pela dificuldade de agendamento no consultório, começa a trocar esse atendimento, mas não é a mesma coisa. No SAU, é tratada a queixa principal, a criança não é vista integralmente porque essa não é a função de uma consulta de emergência", explica o pediatra. Essa situação de troca faz com que a criança não tenha o acompanhamento necessário do seu desenvolvimento, que só é oferecido pelo pediatra no consultório. Lá, a criança tem atenção integral e tem acompanhamento do peso, da alimentação e das vacinas, por exemplo, oferecido pelo mesmo médico. Já a emergência, é grande o rodízio de plantonistas. E o fato do SAU atender 24 horas, acaba tornando o horário muito conveniente para os pais, que não precisam sair mais cedo do trabalho para uma consulta no pediatra. Indicativos de urgência Os médicos devem levar em consideração a preocupação dos pais diante de alguns sintomas apresentados pelo filho e os especialistas recomendam que o quadro completo da criança seja analisado, sendo essencial na hora dos adultos decidirem se devem ir ao serviço de emergência ou esperar uma consulta. São indicativos de urgência: Até seis meses de idade, a consulta com o pediatra deve acontecer mensalmente e, depois disso, pode ser a cada dois meses. A partir de um ano, o ideal é ir ao consultório, pelo menos, uma vez por ano.
O diretor de Recursos e Serviços Próprios I da Unimed Goiânia, Dr. Ricardo Esperidião, reforça a orientação dos cooperados pediatras do SAU I na orientação aos beneficiários. "Nossos pediatras devem orientar aos pais e mães que o atendimento de emergência deve ser seguido de uma consulta ao pediatra da criança para que ele possa acompanhar todos os eventos de saúde do paciente e fazer recomendações pertinentes no momento certo", afirma o diretor, reforçando a importância de um criterioso exame clínico para o correto diagnóstico dos pacientes. |