Dr. Eberth Franco Vêncio
O ato de preencher cadernos escolares pode, para alguns, significar algo além do que simplesmente fazer uma tarefa. Sem as armadilhas da tecnologia, a cabeça voa mais leve na fantasia. Existe quem pense que os atuais tablets coloridos sabotem a criatividade. O cooperado Eberth Franco Vêncio é uma dessas pessoas.
"Não sei por que motivos eu escrevia naqueles tempos. Era uma coisa meio instintiva. Hoje, escrever é para mim uma forma de protestar contra as iniquidades do mundo, uma espécie de terapia para não entrar em parafuso. Não sei se está funcionando, mas parece melhor do que tomar Prozac. Minha esposa diz que estou piorando um pouco mais a cada dia", analisa o médico.
Há quase 10 anos, ele se dedica a escrever crônicas para a Revista Bula, um dos mais respeitados e lidos sites de literatura do país, sob a tutela do editor e jornalista Carlos Willian.
Ele escreve sobre temas variados e é daqueles que se interessa por tudo, tornando essa curiosidade matéria-prima para seus textos, especialmente as questões existencialistas que muito o afligem.
"Houve um período bom da minha vida, no qual eu cria piamente no ser humano e no poder da lira, então, dediquei-me a escrever, divulgar poesia e participar de eventos de poesia falada nos bares de Goiânia. Hoje, mais velho, cético, centrado, careta e desesperançado, escrevo como louco as minhas crônicas semanais", conta o Dr. Eberth.
Além de ter participado várias vezes de livros de antologia com outros colegas escritores, ele publicou seu único livro de poesias em 1999, "Faz de conta que somos felizes", cuja edição está esgotada. "Minha família é grande e comprou todo o estoque disponível na ocasião", brinca. Apesar de ter um livro de crônicas pronto para ir para a gráfica, o cooperado avalia se valeria a pena publicá-lo por não saber exatamente como distribuí-lo após a noite de lançamento. Ele garante que a distribuição e venda de livros no Brasil é um dilema terrível e angustiante para os escritores.
Sobre o reconhecimento de concursos literários, ele garante não se interessar em competir e nem se lembra mais de algumas premiações. Quando jovem, vaidoso e besta, como ele mesmo se definiu, gostava de inscrever seus textos nesses eventos Brasil afora. "Uma bobagem", diz.
Para o médico, escrever é ofício para qualquer um, bastando tinta e papel ou um laptop. Escrever bem, de forma técnica e inovadora, já é um desafio. Sempre brincalhão, garante estar se esforçando muito para cumprir bem o seu papel como escritor. Sua mãe, por exemplo, está achando o máximo.
E, quando pensa se existe interferência do ofício de escritor na sua profissão como médico, ele supõe que seja o contrário. O ofício diário da medicina provê material vasto, interessantíssimo, que ele tem utilizado, frequentemente, com muito critério e ética, na construção dos seus textos, uma vez que a maioria deles aborda os dilemas e as mazelas do ser humano nesse planeta.